11 abril 2011

A presença italiana nos mais diversos lugares do Brasil.

A partir da segunda metade do século XIX, houve um aumento maciço da quantidade de imigrantes italianos que vinham em busca de uma melhor qualidade de vida, já que seu país de origem estava enfrentando uma forte crise em vista do processo de Unificação. Além disso, o Estado brasileiro fornecia o tempo todo e de forma peremptória propagandas de que era neste país onde se podia encontrar o "paraíso", tais imigrantes iriam receber terras, estrutura física quanto financeira para desenvolverem fazendas latifundiárias em prol de seu crescimento econômico e pessoal. Porém, muitos se decepcionaram ao chegar no Brasil, pois não obtiveram, nem chegaram perto de possuir e obter aquilo que lhes fora prometido.
Paralelamente a essa situação, o imigrante Antonio Perazzo viera ao Brasil e se instalara no sertão do pajeú, especificamente na cidade de Afogados da Ingazeira. Assim como retrata Ulysses Lins de Albuquerque em seu livro 'Um sertanejo e o sertão': "Mas não eram apenas os portugueses que se embrenhavam pelos sertões. Alguns italianos ali apareceram - em Afogados da Ingazeira, por exemplo, um Sansoni e um Perazzo deixaram seus nomes perpetuados através de gerações. E outros, em vários municípios."
Em meio a esta situação, a família teve uma afirmação e projeção social marcantes.
Homologamente a esta situação, deu-se a trajetória dos Perazzo na Amazônia, iniciada por Valdir Perazzo que fundou uma cepa da família neste território e que vem marcando com calorosos acontecimentos a vida social e cultural daquele lugar.
Sendo assim, podemos perceber o quão grande é a perspectiva visionária daqueles que fazem parte da família Perazzo, pessoas com uma coragem invejável e que pensam não só no crescimento individual, mas de toda a família, projetando, assim, valores que, por via das consequências, unem, cada vez mais, os parentes mais distantes, outrora desconhecidos entre os mesmos.
É neste ensejo que se faz mister a divulgação de um artigo escrito por Valdir Perazzo, no qual retrata um pouco da história de como surgiu a ideia de obter informações sobre sua origem, de obter a cidadania italiana e de deixar registrado uma árvore genealógica em livro para um conhecimento futuro das gerações vindouras.Além de mostrar como se deu a sua ida à Amazônia. Assim como diz José Américo de Almeida em seu livro 'A Bagaceira': "Tudo se desfaz, menos os elos nativos que prendem o homem à terra.O homem sempre será prisioneiro de sua origem".


A ITÁLIA NA AMAZÔNIA

Valdir Perazzo
Defensor Público


“Recorda-te da tua origem
Não foste feito para viver como os animais
Mas para seguir a virtude e a consciência”
Dante Alighieri

Em julho de 1992, eu e um grupo de brasileiros, participamos, em Roma, de um seminário de direito para advogados, na Universidade Urbaniana. Uma Universidade Católica de grande prestígio. O seminário foi organizado pela Congress. Uma Agência de Turismo que, anualmente, faz grandes grupos de juristas para excursões na Europa. Pelo menos fazia, antes dos atentados aos Estados Unidos. De Rondônia, lembro-me do Doutor Luiz Malheiros Tourinho, Doutor Alexandre Fonseca e do Desembargador Dimas Fonseca. Foi uma viagem inesquecível! Guardo o certificado - cujo texto está escrito em latim -, de participação com grande orgulho.
Em Roma despertou-me o interesse de descobrir minhas origens. Durante toda minha vida ouvi os parentes dizerem, com satisfação, que éramos de origem italiana. Especulavam que o parente que deu origem à família – Antônio Perazzo - era de Milão. Especulavam, posto que, Antônio Perazzo como camponês pobre e analfabeto, nada deixou sobre sua vida na sua pátria – a Itália. Olhei o catálogo telefônico e constatei que, efetivamente, havia muitos Perazzo em Roma e Milão. Mas como pesquisar se não sabia o ano de seu nascimento, o nome de seus pais e a localidade que havia nascido? Fiquei desalentado, mas não perdi a esperança.
Ao voltar para o Brasil, por alguns anos, deixei o projeto da busca das origens arquivado. Em 1995, mudei-me para Brasília. Trabalhei como assessor técnico do Senado Federal. Um dia de sábado, conversando com o escritor Rui Vieira sobre o assunto, este me estimulou a escrever um livro genealógico sobre os Perazzo. Fiquei convencido de que a busca das origens engrandeceria as Histórias do Brasil e da Itália. Dei início as pesquisas. No mesmo ano visitei o túmulo de Antônio Perazzo em Pernambuco. Para minha surpresa, não constava de seu epitáfio nem o ano de nascimento, nem o lugar onde havia nascido. Constava apenas o ano em que havia falecido: 1917.
Entrevistei todos os velhos da família. Tenho essas entrevistas gravadas em fita K-7. Os velhos eram netos de Antônio Perazzo. Quase nada sabiam. Albert Hourani, em Uma História dos Povos Árabes, diz que, os povos não letrados, depois da quinta geração já não sabem quem são seus ancestrais. No caso, na 2ª geração, meus parentes não sabiam mais quem havia lhes dado origem. Entrevistei meu pai. Deu-me a informação de que em 1942, durante a 2ª Guerra Mundial, havia sido portador de uma carta vinda da Itália. Muito provavelmente um pedido de ajuda. Mas essa carta se extraviou sem que conseguissem ler o seu conteúdo. Poderia ser o elo de ligação com os Perazzo italianos.
Em uma outra viagem a Pernambuco, fui à Igreja onde Antônio Perazzo provavelmente havia se casado. Fizemos a pesquisa, mas não localizamos seu certificado de casamento. Pedi ao pároco da Igreja que solicitasse da secretária novas buscas. Quando já estava em Brasília recebi a certidão de casamento de meu bisavô. As informações não eram completas. Não existia a informação do ano em que havia nascido e o lugar de nascimento era inexistente. A secretária grafou errado. O padre da Igreja vizinha onde meu bisavô se casou é italiano. Pedi-lhe que, ele próprio, verificasse os assentos de casamento de Antônio Perazzo. Finalmente, depois de anos de pesquisa, obtive a informação mais importante. Soube que Antônio Perazzo era de Salerno, no Reinado da Itália.
De posse desses dados, escrevi para o Arquivo de Estado em Salerno. Em fevereiro de 1997, recebi uma carta da Itália, cujo conteúdo era a certidão de batismo e de nascimento do meu bisavô. Por pouco não perdi essa informação. A carta da Itália foi postada para o Rio de Janeiro, na suposição de que a capital do Brasil era essa cidade. A partir daí dei início a uma verdadeira via crucis à Embaixada da Itália. Finalmente, em 21 de dezembro de 1998, depois de oito anos de pesquisa, que começou com aquela viagem à Itália, obtive o “riconoscimento della cittadinanza italiana”. Sou cidadão brasileiro e italiano por força do que dispõe o art. 12, parágrafo 4º, inciso II, letra “a” da Constituição Brasileira de 1988.
Enquanto buscava as origens, para efeito de obter a cidadania italiana, concomitantemente fui juntando as reminiscências da família para transformar em um livro. Pequenos retalhos, posto que, como disse, Antônio Perazzo nada deixou por escrito. A primeira e segunda gerações de Antônio Perazzo era de pessoas pouco letradas. Não organizaram a memória da família. Em 1999, publiquei, em parceria, o livro: “Da Itália Para o Brasil: Os Perazzo Em Pernambuco”. Não tem valor literário. O único valor é sentimental. Achei por bem publicar para dar conhecimento às gerações vindouras. Prestar uma homenagem a um homem pobre, analfabeto, sem falar a língua portuguesa, mas que teve a coragem de deixar a sua pátria para plantar uma geração no Brasil.
Como Antônio Perazzo, eu também fui imigrante. Em 1984, recém formado em direito, com poucas perspectivas de trabalho em Pernambuco, mudei-me para a Amazônia (Rondônia). Aqui fui bem acolhido e me profissionalizei. Antônio Perazzo foi bem recebido no Brasil e teve êxito. Imigrante pobre, casou-se com uma filha do patriciado rural e projetou-se socialmente. Antônio Perazzo veio para o Brasil fazer a América, como diziam os italianos. Eu, como os demais imigrantes de Rondônia, viemos fazer um novo Estado. Aqui plantei uma geração. Os Perazzo de Rondônia saberão, posto que registrei em livro, de onde vieram daqui a 200 anos. Um livro é um registro indelével.
Por quê dou esse depoimento? A presença italiana em Rondônia, como de resto em toda a Amazônia, é imensa. Em 1903, quando Rio Branco começava a existir, no lugarejo, constatava-se a presença italiana. A saga italiana segue a História do Brasil. Dos 03 (três) Senadores de Rondônia, 02(dois) são de origem italiana: Moreira Mendes e Amir Lando. O Governador de Rondônia é de origem italiana: Bianco. Dos prováveis candidatos ao Governo de Rondônia, creio que 04 (quatro) são de origem italiana: Bianco, Lando, Cassol e Valverde.
Folheando o livro “História, Curiosidades e Relatos Inéditos”, sobre a colonização de Ji-Paraná, do jornalista João Vilhena, editado pelo empresário Luis Bernardi, observo que mais de 30% das famílias citadas no livro são de descendentes de italianos. Vejamos: Lamota, Bártolo, Paio, Dalamartha, Tornoschi, Gazoni, Canuto, Laurito, Bernardi, Vale, Fontenelle, Sales, Borgio, Vilela, Pavan, Esteves, Coleto, Bianco, Falco, Sanchotene, Perote, Piloto, Malini, Matana, Benevenuti, e Ronconi. Pessoas, cujos pais fizeram a América, e eles próprios estão fazendo Rondônia e a Amazônia.
Portanto, meu modesto livro pode servir de paradigma para que outros descendentes de italianos como eu, que estão fazendo Rondônia, organizem a memória de suas famílias, bem como obtenham a cidadania italiana, evitando assim que a memória dos dois países não se perca na noite da História.



Abraços a todos,

Álvaro Monteiro Perazzo

09 abril 2011

Eutrópia Leite Perazzo (Dona Tofinha)



Um dos grandes propósitos da criação deste blog é a intenção de resgatar todos aqueles que fizeram e fazem parte da Família Perazzo.
Entre eles, aqueles que contribuíram das mais diversas formas para com o crescimento seja individual dos membros ou seja com o crescimento de todo o clã familiar.
Entre as pessoas que mais ajudaram a família foi a querida Dona Tofinha, pessoa de grande espiritualidade e firmeza de suas ações. Uma grande Mãe, uma grande avó, uma grande bisavó, uma grande tia, filha, irmã. Enfim, uma pessoa que deixou um legado para aqueles que conviveram com ela, fato demonstrado em suas atitudes e gestos. Em vista disso, Valdir Perazzo, seu primo, redigiu algumas palavras em forma de depoimento e homenagem in memorian da encantadora Dona Tofinha, como era conhecida por todos.

DONA TOFINHA
Valdir Perazzo

Tomei conhecimento da morte de Dona Tofinha, em e-mail que recebi de sua neta, Sandra Perazzo. Seu depoimento me inspirou a externar a emoção que já vinha sentindo desde que fui informado de sua grave doença, por minha irmã, Vilma Perazzo. Dona Tofinha era como uma preceptora para toda a minha família. Portanto, são inúmeras as lembranças agradáveis de que dela trago comigo. Entretanto, meu depoimento não será de tristeza. O filósofo Sêneca, em seu festejado livro “Aprendendo a Viver”, diz que: “...uma grande parte daqueles que amamos, embora nos sejam tirados, permanece conosco. Precisamos ter a certeza na alma de que seguiremos aqueles que perdemos”.
Dona Tofinha e eu temos a mesma origem. Somos da mesma cepa. Pelo lado paterno descendia da família Leite. Era neta de Fillipe Pedro de Souza Leite, de quem eu sou bisneto. Seu pai, Adelino de Souza Leite, era irmão do meu avô, Argemiro de Souza Leite. Nosso ancestral remoto comum é o casal Pedro Leite Ferreira e Isabel Gomes de Almeida, de origem portuguesa, que viera da Bahia para a ribeira de Piancó, em 1755, e fixara residência no lugar denominado Tapera, à margem direita do Rio Genipapo, no Estado da Paraíba, cuja descendência ramificou-se pelo Sertão do Pajéu, em Pernambuco.
Pelo lado materno, Tofinha era de linhagem italiana – Antonio Perazzo, seu avô e meu bisavô, era oriundo de San Giovanni A Piro, província de Salerno, no Sul da Itália. Ele se casou em Afogados da Ingazeira, Estado de Pernambuco, em 30 agosto de 1885, com Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza, moça de família portuguesa, integrante do patriciado rural sertanejo, sendo a filha menor Antoniela Perazzo Leite, mãe de Tofinha e minha tia-avó por parte de mãe.
Carrego a influência benéfica de Dona Tofinha até no nome. Ainda criança, manifestei curiosidade à minha mãe em saber como o tinha escolhido. Revelou-me que fora sua prima, Tofinha, quem sugerira. Na vida adulta, por volta dos vinte anos, fui à Tabira sacar uma segunda via de minha certidão de batismo. Para minha surpresa, soube que fora batizado com outro prenome. Recusei-me em receber o documento sem que nele estivesse grafado o nome com o qual já me identificava. Terminei por obter o certificado na forma como tinha a convicção de que havia sido batizado. Reafirmou-se a sugestão de Tofinha, rebatizando-me.
Em 1983 me graduei em Direito. Pouco tempo depois, em uma das vezes que fui à Tuparetama, como de costume, fui visitar minha prima Tofinha. Um dos temas da conversa foi o meu futuro profissional. Mais uma vez, com o seu espírito solidário, evidenciou as circunstâncias favoráveis que me levaram a migrar para Porto Velho, Estado de Rondônia. Aí dei início a uma carreira jurídica, nela me realizando. Foi graças à sugestão de Tofinha que me encontro na Amazônia por mais de uma vintena de anos.
Nas renovadas vezes em que visitava Tofinha, quando de férias em Tuparetama, sempre a encontrava de bom ânimo. Era uma pessoa “prá cima”. Não tenho dúvidas de que isso se devia à sua vida espiritual. Tinha com freqüência um livro devocional em suas mãos. Disso dou testemunho! A liderança espiritual que Tofinha exerceu sobre os parentes mais próximos, e à qual sua neta Sandra Perazzo se refere, muito se parece com a liderança espiritual que sua prima e minha tia Maria Leite exerceu sobre mim. Dessa influência benéfica fui amplamente favorecido.
As grandes religiões são concordes em afirmar a coragem como grande virtude. Enfáticas, dizem: “A coroa da vitória é somente para aquele que se mostra digno de usá-la”. Não destoa a filosofia, quando proclama: “...o mal não provém do que te acontece, mas sim de tua indignação e de tuas reclamações”. Tofinha teve longa vida. Enfrentou as adversidades da existência sem queixa. Em todas as ocasiões em que com ela interagi, nunca a encontrei pessimista ou com qualquer outra manifestação de desalento para com os problemas que a todos afligem. A coragem foi sua grande virtude.
Charles Webster Leadbeater, que foi bispo da Igreja Católica Liberal e destacado autor de livros sobre Teosofia, em “O QUE HÁ ALÉM DA MORTE”, citando “O Canto Celeste”, de Edwin Arnold, dá-nos profundo alento da eternidade da alma:

“Nunca o espírito nasceu,
nem cessará de ser;
Jamais deixou de existir;
Sonhos são o começo e o fim!
Sempiternamente permanece o espírito
Inascível, imortal e imutável.
Em nada o afeta a morte,
Embora pareça morta a sua morada!”

Abraços a todos,

Álvaro Monteiro Perazzo